Relação Campo-Teoria


Existem inúmeras relações entre a bibliografia ofertada no curso, seus vídeos de referência e a flexibilização do trabalho na era da informatização, objetivo de nosso trabalho. Dado os limites de tempo e espaço, optamos por relacioná-los com o texto de Enrique Serra Padrós, intitulado "Capitalismo, prosperidade e Estado de bem Estar social", com o vídeo "Obsolescência Programada"cujo nome oficial é "Tirar, Comprar e Tirar", de 2011 sob a direção de Cosima Dannoritzer  e o texto de Regina Morel, "CiÊncia e Estado: a Política científica no Brasil"  

Por mais que Padrós objetive em  seu texto expor a construção do Estado de bem estar social na Europa e a  ascensão dos EUA como referência econômica Mundial, é importante salientarmos que as transformações estruturais ocorridas no pós crise de 1973, rumo a mundialização do capital, decorrem também da incapacidade dos Estados Unidos da América de manter o próprio acordo de Breton Woods, estipulados em 1944 e sua decorrente vinculação do dólar ao ouro ( padrão dolar-ouro). 

A reestruturação europeia, mediada tanto por Breton woods, como também pelo Plano Marshall, estimularam a formação de um acordos bilaterais no continente com intenção de auxílios mútuos em  determinadas áreas: É sobre este contexto que surge em 1948 a  Organização Europeia de cooperação econômica OECE), futuramente renomeada como Organização da Cooperação e desenvolvimento econômico ( OCDE), o BENELUX, associação econômica formada por Bélgica, Holanda e Luxemburgo, a Comunidade Europeia do Carvão e do aço em 1951 (CECA), organizada diretamente entre França e Alemanha e a Comunidade Econômica Europeia (CEE) em 1957, ratificada pelo tratado de Roma, no qual foi defendido a livre circulação de produtos industriais e agrícolas, bem como a adoção de taxas alfandegárias padronizadas. 

O movimento de fortalecimento econômico europeu a partir da construção de "blocos" ou associações econômicas, deve ser entendido segundo a sua complexidade, pois o incentivo norte americano visava a reconstrução de um mercado consumidor em potencial enquanto o crescimento sob a ótica do velho continente era o de garantir um espaço de autonomia política econômica a médio prazo em relação aos norte americanos. 


A complexa via de reestruturação europeia carrega em sua Gênese uma forte política de desenvolvimento científico e tecnológico, como a modernização e maquinização do trabalho nas pequenas propriedades, Introdução  da genética e química em adubos e pesticidas, bem como a investimento direito em pesquisas científicas em áreas de grande interesse geopolítico e econômico como a Robótica, Automatização, Eletrônica, Energia Nuclear, engenharia aeroespacial, indústria farmacêutica e medicina.    


Aos interesses de nosso trabalho, percebemos as "bases históricas" do modelo contemporâneo capitalista em que a ciência contribui decisivamente como fator de autonomia geopolítica tornado-se políticas de Estado.Ademais, a perspectiva de construção de  um Estado de bem estar social na Europa no pós segunda guerra é posta em discussão em tempos de globalização uma vez que a perspectiva do Estado mínimo acende novamente o problema do papel do Estado na condição dos serviços básicos a população. 


O Texto de Morel, "Ciência e Estado: A política científica no Brasil" nos alerta para compreendermos que a ciência é afetada tanto por protocolos internos como  também por questões sociais ao seu redor, logo marcadas diretamente pela conjuntura histórica que a circunda. A construção de uma ciência cuja característica seria a imparcialidade é fruto direto de um processo ideológico que se construiu no desenrolar do capitalismo Liberal, mas que perdeu sua condição fetichizada no momento em que o Estado passa a intervir diretamente nas políticas científicas, financiado-as sob o princípio de manutenção dos interesses nacionais.

Em síntese, ciência e Estado caminham conjuntamente em uma relação complexa, dialética, pois cada vez mais o Estado vai necessitando de "soluções técnicas" para a solução de seus problemas e só as encontra no financiamento direto de pesquisas científicas. No limite,  o relacionamento direto entre ciência e poder pode ser expressado também como um relacionamento entre a ciência e o capital, que força suas instituições subalternas a exercer ligações que garantam o seu ciclo de produção e reprodução. 

Quando o assunto é "flexibilização do trabalho nas empresas de telemarketing", percebemos a íntima relação com o texto de Morel, pois o que caracteriza estes profissionais é a sua condição deplorável, sustentada por uma rede tecnológica, cuja gênese se encontra no desenvolvimento científico tecnológico, demonstrando a íntima relação que a ciência tem não somente com seu protocolos internos mas também com questões sociais, fruto de seu tempo e conjuntura histórica. 

O vídeo de Cosima, sobre a obsolescência programada revela-nos o impacto que a cultura do consumo desenfreado cria em nossa sociedade e tenta nos alertar para a condição conflituosa entre produtores e consumidores uma vez que não existe uma relação de reciprocidade, mas sim uma pressão direta da produção sobre o consumo. O conceito de obsolescência desenvolveu-se no século XX, mas é claramente observável em nossa realidade, uma vez que o ciclo de competitividade empresarial e o consumismo desenfreado da era da globalização faz com que os trabalhadores cada vez mais possuam produtos novos em uma escala de tempo cada vez menores, afetando diretamente as condições de trabalho dentro dos setores de produção e prestação de serviço como também a condição psicológica dos indivíduos que se reconhecem pela aquisição de produtos novos.