quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Considerações finais



 A flexibilização do trabalho no mundo do telemarketing é de fato um vasto campo a ser explorado pelas ciências sociais e aplicadas, pois ainda oferece uma série de desafios de compreensão de sua plena inserção no mundo do trabalho. O que pode ser apontado é sua íntima relação com os movimentos estruturais do capitalismo contemporâneo em que competitividade e tecnologia, principalmente as informacionais, garantem novas rodadas de lucratividade e por consequência organizam nichos de mercado em que o "trabalhador virtual" se enquadra. 


As condições de trabalho em que se encontram os operadores de teleatendimento, são precárias e descritas no trabalho, de forma panorâmica. Em síntese, elencou-se a jornada de trabalho flexível, em torno de 6 horas, mas extensível em forma de horas extras ou banco de horas ou mesmo em "horários alternativos", os salários reduzidos, girando em torno de 1 a 2 salários mínimos, exposição a doenças físicas ( por excesso de repetição) ou psicossomáticas como stress, depressão ou mesmo síndrome do pânico. O constrangimento, mostrou-se como uma ferramenta poderosa de coação e prática comum no ambiente de trabalho dos teleatendentes, variando desde controle sobre a movimentação interna do funcionário, chegando a casos extremos de impedimentos de realização de funções fisiológicas, como a ameaças de perda de emprego em caso de  faltas por motivos médicos. 


O perfil de trabalho, segundo critérios de faixa etária, escolaridade e sexo, demonstram que os "alvos"  são indivíduos jovens, entre 16 e 25 anos em média, com  baixo nível de escolaridade, sem experiência prévia em carteira de trabalho e predominantemente do sexo feminino. A condição precária em que se encontram  pode ser analisada segundo critérios sociológicos, pois a juventude mostrou ser um grupo disposto a arriscar mais, e aceitar condições de trabalho extenuantes e flexíveis, porém é importante ressaltar o nível de rotatividade que o cargo assume, seja pelas próprias políticas empresariais ou mesmo por inciativa do trabalhadores.  



A composição ideológica do "atendimento 24 horas", expõe as chagas do modelo de organização dos atendentes de telemarketing, pois para atender o desejo de consumo dos consumidores e ao mesmo tempo vencer a concorrência entre empresas rivais, abre-se espaço para um nicho de mercado dentro do ambiente do teleatendimento, que é o trabalho por escalas ou mesmo horários flexíveis, que muitas vezes desorganiza o tempo livre dos trabalhadores, estendendo o mundo do trabalho para áreas aparentemente isoladas dele. 



Se não bastasse todas as condições de exploração e precarização do trabalhador informacional, tem-se muitas vezes o processo de terceirização em empresas de telemarketing, fazendo com que dois funcionários de teleatendimento, com funções similares, mas um terceirizado e outro não, ganhem salários distintos e tenham direitos trabalhistas distintos. A precarização do trabalho via terceirização implica em flexibilização do trabalhador, tanto em horários como também em salários, fator de aumento de tensões entre indivíduos do mesmo setor. 

Em síntese, observa-se que o setor de telemarketing é uma das frentes do que se pode chamar de "infoproletariado" ou o trabalhador virtual contemporâneo, fruto direto junção entre ciência, tecnologia e mercado, que no mundo contemporâneo associa formas complexas e tecnológicas de organização do trabalho com métodos arcaicos de coação e disciplina do trabalhador.